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Universidade Federal do Oeste do Pará

Ultima atualização em 29 de Novembro de 2022 às 11:40

Fórum em Monte Alegre debate políticas de ações afirmativas e de assistência estudantil


Próximo Fórum Integrado de Ações Afirmativas e de Assistência Estudantil da Ufopa será realizado em 2023 no Campus Alenquer.

O combate ao racismo institucional, a ampliação do número de cursos de graduação nos campi fora da sede, a construção da Casa do Estudante e a implantação de um processo seletivo especial para pessoas com deficiência (PdC) são as principais reivindicações apresentadas pelos representantes de diretórios e coletivos estudantis, professores, servidores e demais participantes do III Fórum Integrado de Ações Afirmativas e de Assistência Estudantil, realizado pela Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) nos dias 22 e 23 de novembro, no município de Monte Alegre (PA).

Com o tema “Ações Afirmativas e Assistência Estudantil no Ensino Superior: equidade, diversidade e inclusão na universidade multicampi”, o Fórum Integrado contou com palestras e mesas-redondas sobre assistência estudantil no cenário de contingenciamento de recursos; valorização étnico-racial, diversidade e inclusão; acolhimento à pessoa LGBTQIAPN+; e história e cultura negra no ensino superior.

“Hoje a Ufopa está realizando o seu terceiro Fórum Integrado de Ações Afirmativas aqui no Campus Monte Alegre. É o primeiro evento institucional dessa magnitude que nós realizamos em um campus fora da sede. Essa discussão que acontece agora no Campus Monte Alegre é importante para melhorar e aperfeiçoar a nossa política de acesso e de inclusão de nossos estudantes à Universidade”, explica a reitora da Ufopa, Aldenize Ruela Xavier, que participou do evento. “Esse Fórum também vem no sentido de elaborarmos estratégias para o nosso Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), que vai ser elaborado a partir do ano que vem”.

 

Mesa de abertura do III Fórum Integrado de Ações Afirmativas e de Assistência Estudantil.

 

Realizado pela Pró-Reitoria de Gestão Estudantil (Proges) em parceria com o Campus Monte Alegre, o Fórum Integrado se caracteriza por ser um espaço permanente de discussão e atuação nas garantias de direitos dos estudantes da Ufopa. Definido por sorteio, o local da próxima edição será o Campus Alenquer.

“É sempre um desafio realizar um evento deste tamanho fora de Santarém, o que só foi possível graças ao esforço e dedicação de vários alunos e servidores desta Universidade. Meu muito obrigado a todos que contribuíram para a realização e que participaram do evento; as discussões foram riquíssimas e contribuirão para melhores decisões da Ufopa pensando nos seus estudantes”, afirma o pró-reitor de Gestão Estudantil, Luamim Tapajós.

Para a diretora do Campus Monte Alegre, Marcella Costa Radael, o fórum alcançou seu objetivo principal. “Tivemos dois dias de muita discussão e proposição, levantando assuntos importantes, alguns que não haviam sido discutidos ainda no âmbito das ações afirmativas da Universidade”, afirma. “Poder sediar esse evento em Monte Alegre foi um orgulho muito grande para nós, e também uma felicidade, principalmente por saber que o fórum vai continuar sendo realizado em outros campi da Universidade”.

Assistência Estudantil – O pró-reitor de Planejamento e Desenvolvimento Institucional da Ufopa, Cauan Ferreira Araújo, participou da primeira mesa-redonda do fórum, que discutiu a assistência estudantil no cenário de contingenciamento de recursos. O professor falou sobre o orçamento e a execução do Plano Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes), destacando os atuais desafios para consolidação dessa política pública, principalmente no contexto amazônico. “Internamente, a Ufopa vem trabalhando para aumentar a sua eficiência e eficácia na aplicação desses recursos, para que a gente consiga consolidar essas ações tão importantes para a manutenção dos nossos alunos”, afirma.

Para o docente, a região amazônica precisa ser olhada com mais carinho pelos gestores federais. “Eles precisam entender que o aporte de recursos financeiros para uma Universidade pública no coração da Amazônia deve ser diferenciado para que essa universidade faça assistência estudantil. Não é o mesmo aporte para os grandes centros ou para a região Sudeste. O governo federal precisa olhar para esse contexto externo, para o entorno da Universidade, para fazer essa destinação de recursos, o que não é feito atualmente”.

 

Comunidade acadêmica de Monte Alegre marcou presença no III Fórum Integrado.

 

O debate sobre assistência estudantil contou ainda com a participação das servidoras Izabela Mendonça de Assis, diretora de Acompanhamento Estudantil (DAE) da Proges; e Helana Miranda da Cruz Gomes, do Núcleo de Gestão Pedagógica (Nugepe), que pesquisa a temática do Pnaes e falou sobre a relação entre assistência estudantil e qualidade de vida.

Demandas – Acadêmica do curso de Farmácia, Marielle Vicente Lima participou do Fórum Integrado representando o Coletivo de Estudantes Quilombolas (CEQ) da Ufopa. “É muito importante que a gente participe desse fórum para trazer as nossas demandas como acadêmicos e debater também as políticas de assistência estudantil e de ações afirmativas dentro da Universidade. Trazer as nossas dificuldades e ouvir também a Universidade, o que ela está propondo para a gente”, afirma a estudante do Quilombo Peafu, situado em Monte Alegre.

Durante sua participação na mesa-redonda “Em defesa das Políticas de Ações Afirmativas e de Assistência Estudantil: valorização étnico-racial, diversidade e inclusão”, Marielle Lima ressaltou a necessidade da criação de novos cursos de graduação nos campi fora da sede, como forma de garantir a presença de mais alunos quilombolas na Universidade. “Em todos os campi da Ufopa temos estudantes quilombolas. Por isso, vemos a necessidade de criação de novos cursos para os campi”.

Representante do Diretório Acadêmico Indígena (DAIN), Rosiene de Souza Cruz também participou da mesa que debateu as ações afirmativas dentro da Universidade, destacando a importância do Restaurante Universitário (RU) e dos programas de Formação Básica Indígena (FBI) e de Monitoria Ceanama para a permanência dos alunos na instituição. “Precisamos lutar por melhorias no Restaurante Universitário. Também precisamos ter a Casa do Estudante, não apenas em Santarém, mas nos demais campi”. Com relação ao racismo institucional, a discente do povo mundurucu é enfática: “Denuncie o racismo dentro da Universidade, porque é com a denúncia que a gente vê o que a Universidade precisa melhorar”.

 

Representantes de diretórios e coletivos estudantis apresentaram suas demandas.

 

Representante do Coletivo dos Estudantes com Deficiência da Ufopa, Liliane Pereira da Silva também defendeu o aumento no número de cursos de graduação nos campi fora da sede, além da ampliação da equipe multiprofissional que atende aos alunos com deficiência. Mas a principal reivindicação do Coletivo é a implantação de um processo seletivo especial voltado para pessoas com deficiência (PcD), como já ocorre com os indígenas e quilombolas. “A nossa expectativa enquanto movimento estudantil é continuar reivindicando. Temos muitas coisas que podem e precisam avançar”, afirma a acadêmica, que veio de Altamira para cursar Direito na Ufopa.

O debate contou ainda com a participação da diretora de Políticas Estudantis e Ações Afirmativas, Terezinha do Socorro Lira Pereira; e do coordenador do Núcleo de Acessibilidade da Ufopa, Ivanilson Ribeiro Cardoso.

Luta antirracista – Durante sua participação na mesa-redonda “História e Cultura Negra no Ensino Superior: desafios para a construção de uma educação de combate ao racismo”, o coordenador do Coletivo de Estudantes Quilombolas (CEQ) em Monte Alegre, Felipe Neres, criticou a defasagem do ensino básico modular ofertado para as comunidades quilombolas da região e relatou o preconceito sofrido por parte de membros de sua própria comunidade quando decidiu fazer um curso superior. “Quando surgiu o processo seletivo especial da Ufopa, abraçamos com força essa oportunidade, pois vejo a Universidade como uma porta para o mundo. Por isso acho importante o fortalecimento dos quilombolas dentro da universidade pública”, afirma o acadêmico do curso de Engenharia de Aquicultura.

Em um depoimento emocionante, o presidente do Quilombo de Peafu, Jackson Jorge Valente, contou a história de luta de sua comunidade contra o racismo. “Quantos jovens da nossa comunidade deixaram de estudar com medo do preconceito e do bulling. Mesmo assim, hoje temos jovens que passaram na Ufopa. Foi um avanço que nós, como povo negro, conseguimos”, lembra. “Todos nós temos direito de ter um lugar nessa vida. E, dentro da Universidade, vamos lutar contra o racismo com toda força e resignação”.

Também participante da mesa, Haroldo Bernardo dos Santos, presidente do Quilombo de Passagem, comemorou o fato de a sua comunidade ter mais de quarenta estudantes fazendo um curso superior. Com mais de 200 famílias, Passagem é a comunidade quilombola com o maior número alunos ingressantes na Ufopa. Uma delas é a estudante Aline Lemos, que fez a mediação do debate. “Estar com a Universidade hoje dentro do território quilombola faz com que esse direito seja efetivado na prática, porque quem ainda não se reconhece (quilombola) percebe o quanto que os nossos direitos são reconhecidos a partir do momento em que a Universidade vem para o nosso território. Isso é muito importante e gratificante. A nossa perspectiva é de melhoria, é de que a Universidade se aproxime ainda mais dos territórios quilombolas”, afirma a acadêmica do curso de Direito.

“O que o pai Jackson, seu Haroldo e o Filipe estão, de certa maneira, apontando para a gente é o problema do Brasil, que é o racismo, porque foi ele que construiu o país. Nenhum país que escravizou tanta gente, que tem tanta população preta, pode dizer que o problema dele é outra coisa. Temos outros problemas sim, mas o maior deles é o racismo, que organizou toda a nossa sociedade, nossa maneira de pensar e sentir e, não é toa que a gente está tentando, a toda hora, resolvê-lo”, afirma o professor Alan Augusto Moraes Ribeiro, diretor de Cultura e Comunidade da Ufopa, que participou do debate.

Para o docente, que é negro, a universidade é a instituição pública que melhor avançou no combate ao racismo no país. Desde sua criação, 586 indígenas e 495 quilombolas ingressaram nos cursos de graduação da Ufopa por meio dos processos seletivos especiais, sem contar com os demais beneficiários da Lei de Cotas, que norteia o processo seletivo regular da instituição. “De todas as universidades públicas federais do Brasil, a Ufopa é a que melhor incluiu ou a que mais incluiu alunos negros, indígenas e quilombolas no Brasil, quando comparamos sua história e trajetória com as demais universidades públicas do país”.

Confira a íntegra dos debates do III Fórum Integrado de Ações Afirmativas e de Assistência Estudantil no canal da Proges no YouTube.

Texto e Fotos: Maria Lúcia Morais – Comunicação/Ufopa

29/11/2022

Mesa-redonda “História e Cultura Negra no Ensino Superior: desafios para a construção de uma educação de combate ao racismo”.

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