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Universidade Federal do Oeste do Pará

Ultima atualização em 20 de Março de 2019 às 11:09

II Comunicação Indígena: “Protagonismo Indígena no Ensino Superior"


Alunos indígenas da Formação Básica apresentaram 24 trabalhos de extensão realizados em aldeias.

Com o tema “Protagonismo Indígena no Ensino Superior”, o programa de Formação Básica Indígena (FBI) da Ufopa realizou nos dias 13 e 14 de fevereiro o II Comunicação Indígena, no auditório Wilson Fonseca, Unidade Rondon. O evento é um espaço em que os alunos indígenas do período de formação inicial apresentam os resultados dos projetos de extensão realizados nas suas aldeias durante o ciclo básico.

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Nesta edição, os participantes do evento apresentaram 24 trabalhos de extensão realizados em 24 aldeias diferentes, discutindo temáticas que foram escolhidas pelos próprios alunos, em conjunto com as lideranças indígenas, a partir dos desafios vividos pelas comunidades.

Um dos temas que se destacou foi o de criação de hortas escolares em comunidades, considerando a necessidade de nutrientes em alimentos saudáveis para a merenda escolar. Os acadêmicos levaram para discussão a nutrição, a segurança alimentar das crianças, aspectos da educação ambiental e o incentivo à agricultura familiar.

Também houve trabalhos sobre artesanato, tratamento do lixo, água, fortalecimento linguístico cultural de alguns povos, esporte e lazer na escola, medicina tradicional, entre outros.    

A discente Solange Maria Almeida realizou o projeto "Plantas Medicinais: contribuições para a saúde indígena na aldeia Curucuruí", região do Eixo Forte, desenvolvido em etapas diferentes como rodas de conversa com anciãos da aldeia e, posteriormente, com trabalhos envolvendo jovens e crianças: “A ideia desse projeto se deu pela valorização dos conhecimentos empíricos que os nossos anciãos têm e para que haja uma troca de conhecimentos com os mais jovens”.

O projeto "A língua Nheengatu no cotidiano do povo Arapiun: fortalecimento e valorização do Nheengatu nas aldeias Nova Vista e Braço Grande do rio Arapiuns" foi desenvolvido em duas comunidades por três discentes: Darlen Ruana, Erenilson Pereira e Susan Michelle. “O projeto que a gente escolheu foi devido se perceber a perda dessa língua nheengatu”, disse Susan.

A professora Marilia Leite, orientadora de alguns trabalhos, destacou que a compreensão quanto à formação básica indígena é de que essa etapa é tanto de formação acadêmica quanto de formação política, de valorização da etnicidade, do ser indígena. “A gente quer que a universidade seja um espaço em que os saberes tradicionais, as crenças tradicionais, também sejam valorizados. A ideia é que haja esse diálogo entre os saberes tradicionais e os saberes científicos”.

A coordenadora do Programa de Formação Básica Indígena da Ufopa, professora Denise Carneiro, disse que o evento foi criado em 2018 com a turma ingressante em 2017 pelo Processo Seletivo Especial Indígena (PSEI), com o objetivo de “divulgar à sociedade e à comunidade acadêmica da Ufopa e outras universidades os trabalhos desenvolvidos por esses alunos, demonstrando esse potencial que eles têm quando participam de projetos de pesquisa, ensino e extensão”. A professora destacou que “os projetos integraram mais o ensino e a extensão com a ideia de trabalhar a produção textual, uma produção de textos acadêmicos de forma significativa pra eles. Que essas atividades possam ter função na vida deles, na vida da Aldeia”.

Abertura – A abertura do II Comunicação Indígena foi realizada na manhã da quarta-feira, 13, com a presença de lideranças indígenas e de representantes da Ufopa e da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Santarém.

O líder Daciel Tupaiú, da aldeia Aminã, foi um dos representantes indígenas na mesa. “Temos que valorizar nossa presença na universidade. É uma conquista com muita luta”, enfatizou. Ele disse que é preciso promover o diálogo entre a universidade e a aldeia para que os estudantes não esqueçam os costumes dos seus povos.

Outra liderança, Maua Arapiun, da aldeia Braço Grande, parabenizou os alunos pelos trabalhos realizados nas comunidades e disse que muito ainda precisa ser feito: “A luta apenas começou. Há o desafio de quebrar os preconceitos, principalmente divulgando suas origens, suas culturas e retornar para a aldeia”.

Pela coordenação local da Funai em Santarém estava Geraldo Dias, que destacou a importância dessa troca de experiências promovida pelo II Comunicação Indígena. Para Dias, essa prática faz com que o aluno possa fazer retornar para suas lideranças o que ele tem desenvolvido dentro da universidade.

Pela Ufopa, entre outros representantes, estavam o diretor e a vice-diretora do Instituto de Ciências da Educação (Iced), Edilan Quaresma e Ana Maria Vieira; e o pró-reitor da Cultura, Comunidade e Extensão (Procce), Marcos Prado. Segundo o professor Edilan Quaresma, a Formação Básica Indígena e os trabalhos gerados são resultados das ações afirmativas da universidade, que ainda têm muitos desafios.

A professora Ana Maria Vieira falou sobre a importância da troca de conhecimentos entre a academia e a comunidade, além do destaque que a Ufopa merece por reunir o maior número de etnias em uma universidade. Já o professor Marcos Prado ressaltou que o FBI, com as ações desenvolvidas no ciclo básico, proporciona uma missão importante da academia, que é a extensão universitária.

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Evento – O Comunicação Indígena foi criado em 2018 pela Formação Básica Indígena (FBI) da Ufopa, com o objetivo de proporcionar aos discentes indígenas um espaço para divulgar à comunidade acadêmica e sociedade em geral as atividades de ensino, pesquisa e extensão desenvolvidas por eles no período da formação inicial, que dura dois semestres.

Segundo a professora Denise Carneiro, a motivação para a criação desse evento se deu a partir de um pedido das lideranças indígenas à Ufopa, de que houvesse maior interação entre a universidade e a comunidade indígena. Assim, o evento nasceu por meio do desenvolvimento de ações protagonizadas pelos jovens das aldeias, como forma de procurar amadurecer neles o compromisso social com seus lugares de origem.

Formação Básica Indígena - É resultado de uma demanda de estudantes indígenas que ingressaram na Ufopa, após perceberem de precisavam de orientações diferenciadas para poderem acompanhar as atividades acadêmicas desenvolvidas na universidade. Depois de discussões internas na Ufopa, com base nas ações afirmativas propostas, criou-se o projeto da formação básica em 2016, de forma experimental, sendo desenvolvido de forma completa a partir de 2017. A cada ano ingressam, em média, 60 estudantes indígenas na instituição.

O ciclo inicial na formação básica dura dois semestres. É um momento de orientação acadêmica para a melhora da produção textual e domínio de formatação de trabalhos acadêmicos para ingressantes do PSEI, e também busca integrar ensino, pesquisa e extensão, proporcionando ao aluno recém-chegado à universidade uma experiência que lhe permita refletir sobre as demandas da sua aldeia. Com a realização dos projetos, o programa também objetiva manter a relação da universidade com a comunidade.

Comunicação/Ufopa

14/2/2019

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