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Universidade Federal do Oeste do Pará

Ultima atualização em 24 de Abril de 2019 às 16:04

Docente e aluna da Ufopa participam de audiência sobre mineração no Tapajós na Câmara dos Deputados


Docente do Instituto de Saúde Coletiva (Isco), a professora doutora Heloísa de Moura Meneses está em Brasília, onde participará na tarde desta terça-feira, 23, na Câmara dos Deputados, de uma audiência pública para debater a mineração na região do rio Tapajós. O convite, inesperado, chegou por e-mail. “Fiquei muito surpresa”, declara a bióloga.

Na audiência, Heloísa apresentará os resultados de sua pesquisa sobre a exposição de pessoas que vivem na região de Santarém ao mercúrio (Hg) através da ingestão de peixes contaminados. Em 2016, a pesquisadora avaliou, em sua tese de doutorado, os níveis de concentração do metal pesado no sangue dessas pessoas. A substância é considerada das mais perigosas para o meio ambiente e para a saúde humana devido à sua alta toxicidade.

Em seu trabalho, a pesquisadora concluiu que a população de Santarém está ambientalmente exposta ao mercúrio através do consumo frequente de peixe, ou seja, está sob o risco dos efeitos tóxicos da exposição. A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera exposto o indivíduo que apresenta níveis de mercúrio no sangue acima de 10μg/L (microgramas de mercúrio por litro de sangue). Cerca de 65% das pessoas que foram avaliadas pela pesquisa de Heloísa apresentaram níveis de mercúrio acima desse limite. O grupo de indivíduos que declarou consumir peixe três ou mais vezes na semana apresentou uma média de 30μg/L do metal no sangue.

Os resultados da pesquisa da docente foram divulgados em 2017 no site da Ufopa. A repercussão da reportagem na mídia regional e nacional, em especial uma matéria publicada no Brasil de Fato, levou ao convite do deputado Nilto Tatto (PT/SP) que preside a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Após a defesa do doutorado, Heloísa manteve a linha de pesquisa, ampliando a área de abrangência. Inicialmente, o estudo analisou as amostras de sangue de moradores da zona urbana de Santarém e na comunidade ribeirinha de Tapará Grande. “Agora estamos estudando outras comunidades, como Tiningu e Henrique Mendes, localizadas na região do planalto santareno”, ressalta.

Décadas após o auge da atividade garimpeira na região do Oeste do Pará, o estudo trouxe à tona, novamente, o problema da exposição da população ao mercúrio. No entanto, o foco gerador não é mais o garimpo, durante muitos anos considerado o principal responsável pela contaminação por mercúrio. Atualmente, atividades relacionadas ao uso do solo, como desmatamentos, queimadas e a construção de hidrelétricas, são as que mais contribuem para a contaminação.

No estudo, concluído em 2016, foram avaliadas diferentes variáveis que possam explicar as diferenças de suscetibilidade de alguns grupos à exposição mercurial. O trabalho levou em consideração diferentes fatores ambientais, epidemiológicos e genéticos. Ficou evidente, por exemplo, que os homens apresentam níveis médios de mercúrio mais altos que as mulheres (30,4μg/L e 15,6μg/L, respectivamente) e que a presença do metal no organismo aumenta com a idade, devido ao acúmulo ao longo dos anos. “Agora estamos fazendo a parte hematológica e bioquímica, para cruzar os dados com o consumo de mercúrio. São exames relacionados a problemas renais e hepáticos. Como o mercúrio causa danos no fígado e nos rins, estamos verificando se existem relações entre o resultado desses exames e os níveis de mercúrio no organismo”, explica a professora.

Segundo Heloísa, o alerta à população é necessário. “Fico contente que os deputados tenham se interessado pelo tema. Essa pesquisa tem um papel importante de mostrar pra sociedade o que está acontecendo. Todos precisam saber dos riscos e, se podemos contribuir dessa forma, não podia deixar de vir”, avalia a docente, que também considerou o convite gratificante. “É um reconhecimento do nosso trabalho”, enfatiza.

Além da docente, a aluna Alessandra Munduruku, que cursa Direito na Ufopa, também participará como expositora na audiência, assim como o neurocirurgião santareno Erick Jennings Simões; o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Franklimberg de Freitas; o diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo; o presidente do Ibama, Eduardo Bim; e o representante da Associação Indígena Pariri, Anderson Alves. A audiência será realizada a partir das 14h. O evento será transmitido ao vivo pela internet. Os interessados poderão enviar perguntas, críticas e sugestões aos convidados. Para assistir, basta acessar a página https://edemocracia.camara.leg.br/audiencias/sala/863.

Leia mais aqui: http://www2.ufopa.edu.br/ufopa/divulgacao_cientifica/pesquisa-indica-santarenos-com-altos-niveis-de-mercurio-no-sangue-pela-ingestao-de-peixe.

Renata Dantas - Comunicação/Ufopa

23/4/2019

Profa. Heloísa Nascimento participa da mesa de debate ao lado de Alessandra Munduruku, ativista indígena que cursa Direito na Ufopa, e Dr. Erick Jennings Simões, neurocirurgião santareno. Foto: Hugo Diniz.

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