Criado em 29 de Setembro de 2022 às 09:28
27/09/2022 - TAPAJÓS DE FATO - Negativa
29 de Setembro de 2022 às 09:28
Estudante da UFOPA sofre racismo em sala de aula por parte de professor da universidade
“Me senti ofendida, violada, atacada, e não só a mim, mas ao meu povo e a todos que ele ofendeu. E penso em desistir da disciplina que o mesmo ministra”, afirma aluna que foi atacada pelo professor.
Por: Tapajós de FatoFonte: Tapajós de FatoCompartilhe:
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Na manhã desta terça-feira, 27 de setembro, nas dependências da Universidade Federal do Oeste do Pará - UFOPA, a discente Arliene Pereira dos Santos, indígena do povo Arapiun, sofreu um episódio de racismo por parte de um professor da instituição.
A estudante procurou o Tapajós de Fato e afirmou que o professor, que ministra a disciplina de Química Ambiental, proferiu palavras racistas, além de desmerecer a luta dos povos indígenas. O mesmo proferiu falácias como o uso de indígenas por Ong’s para atrair dinheiro e usou os termos “xexelentos” e “cabeludos”, em tom pejorativo, para se referir aos indígenas da etnia Arapiun.
Segundo as testemunhas presentes, os episódios de racismo, intolerância religiosa e LGBTfobia ocorreram “aleatoriamente” durante sua aula no turno matutino, onde o professor começou comentando uma experiência que ele teve no Arapiuns.
Ainda durante as ofensas, o professor declarou abertamente apoio ao candidato à presidência Jair Bolsonaro e, quando confrontado pela estudante, disse que não adiantaria denunciar à ouvidoria da universidade, pois não aconteceria nada.
Em nota enviada à ouvidoria da instituição, a estudante relata algumas das ofensas proferidas:
“Palavras tais como ‘os índios daqui são usados pelas Ong' s para atrair dinheiro para a Amazônia’ disse que é só pegar dois pretos e dois índios e levar para as ruas para fazer manifestação. Fora outras coisas desnecessárias que ele falou. Usou palavras para se referir às pessoas do Arapiuns em tom de desprezo como ‘xexelentos’ e ‘cabeludos’. Declarou apoio ao candidato Bolsonaro e que, se eu denunciasse na ouvidoria, não lhe aconteceria nada”.
Segundo ela, o professor disse ainda ser favorável à tese do Marco Temporal, que defende que os povos indígenas só podem reivindicar as terras ocupadas desde 5 de outubro de 1988, que é uma das principais lutas dos povos indígenas atualmente.
“Muitos desses povos não estavam em seus territórios por terem sido retirados à força, muitos dizimados, massacrados e expulsos em nome do progresso e do tal desenvolvimento, no qual ele se referiu dizendo que nossos povos atrapalham esses projetos em nossos territórios”, afirma Aliene.
A estudante cobra posicionamento da instituição, e exige medidas efetivas e combativas a fim de que episódios como esse não voltem a acontecer em um ambiente tão plural como uma universidade no meio da Amazônia.
Para ela, é inconcebível um professor despreparado ministrar aulas em uma universidade pública que recebe os mais variados públicos.
Ainda em nota, Arliene pede que a Ufopa tome as devidas providências o quanto antes, e relata ainda como se sente com o ocorrido.
“Me senti ofendida, violada, atacada, e não só a mim, mas ao meu povo e a todos que ele ofendeu. E penso em desistir da disciplina que o mesmo ministra”.
Em entrevista ao Tapajós de Fato, Arliane acusa o professor de fugir do tema ao abordar assuntos que não lhe competem.
“Não é um assunto de química ambiental. Não tinha necessidade de ele abordar esse tema, já que não é da área dele”
O Tapajós de Fato também entrevistou outra aluna, que não quis se identificar por medo de represálias. Segundo ela, além das falas racistas, o professor cometeu ainda crimes de intolerância religiosa.
“Ele proferiu palavras ofensivas relacionadas aos povos quilombolas e indígenas e também em questão de religiões por conta de que algumas pessoas na sala são evangélicas".
A aluna afirma ainda que o professor é contra cotas nas universidades e que prefere que os alunos paguem mensalidade para estudarem.
“Ele acha errado os indígenas entrarem (na universidade) como bolsistas e os quilombolas também. Ele disse que prefere que os alunos paguem a universidade”.
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