Criado em 29 de Setembro de 2022 às 10:19
28/09/2022 - TAPAJÓS DE FATO - Negativa
29 de Setembro de 2022 às 10:19
Indígenas protestam contra falas racistas de professor e cobram medidas efetivas da reitoria da UFOPA
Professor proferiu diversas falas racistas e preconceituosas em sala de aula na manhã do dia 27 de setembro, causando indignação em alunos, comunidade acadêmica e movimento indígena.
Por: Tapajós de FatoFonte: Tapajós de FatoCompartilhe:
Foto: Tapajós de Fato Foto: Tapajós de Fato
Na manhã desta quarta-feira, dia 28 de setembro, indígenas da região de Santarém realizaram um ato contra as falas racistas proferidas por Manoel Bentes dos Santos Filho, professor de Química Ambiental da UFOPA, à estudante indígena Arliene Pereira, cujo a repercussão do caso indignou a comunidade acadêmica e o movimento Indígena da cidade.
O ato foi realizado dentro do Restaurante Universitário (RU), com o ritual dos povos indígenas. Logo em seguida, o grupo de manifestantes se dirigiu até o prédio onde se localiza a reitoria da universidade para cobrar posicionamento e medidas punitivas para o professor, além de também propor medidas combativas a fim de evitar que mais episódios de racismo aconteçam.
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Aldenize Xavier, no cargo de atual reitora da instituição, recebeu os manifestantes e se pronunciou dizendo que é necessário cautela no trato do tema. Ela reconheceu a gravidade da denúncia, mas disse que não pode deixar que os demais alunos da turma sejam prejudicados com a falta de um professor para ministrar a matéria.
“Nós precisamos garantir a imediata suspensão das atividades do professor no caso e garantir que os alunos não sejam punidos duplamente. Como punidos duplamente? Ficando sem aula. Então, nós estamos buscando a garantia de que a turma possa ser acolhida”.
Em nota publicada na tarde do mesmo dia, a Universidade afirmou que o docente já foi substituído para que não haja “atrasos e nem prejuízos acadêmicos para a turma”
A reitora explicou ainda as medidas que já foram tomadas pela instituição. Uma delas foi a abertura de um processo administrativo disciplinar (PAD), que será avaliado por uma Comissão de Apuração Administrativa Disciplinar que terá o prazo de até 60 dias para apurar o caso, para a então definição das penalidades.
A reitoria também encaminhou um ofício para a Polícia Federal (PF), que deve seguir um outro tipo de investigação independente da utilizada pela instituição.
Aldenize reconhece que a Universidade não conhece todas as demandas de povos tradicionais da Amazônia, mas acredita que essa realidade pode ser mudada com a cooperação de todos.
“A universidade está entendendo 100% as demandas dos povos indígenas e comunidades tradicionais da Amazônia? Não está. Nós estamos distantes dessa realidade. Mas em cada tema como esse e em cada abordagem que a gente faz, vocês podem ter certeza de que mais adeptos e mais pessoas começam a lutar e também a se sensibilizar”.
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Em entrevista ao Tapajós de Fato, Iza Tapuia, mestre em Antropologia e Especialista em Direitos indígenas, Direitos Humanos e Cooperação Internacional, se pronunciou e trouxe como proposta que a instituição crie uma Comissão Interétnica para o entendimento do racismo e seus impactos, com o objetivo de evitar mais casos dentro desta instituição que se quer plural.
“A nossa sugestão é de que a reitoria crie uma Comissão Interétnica de debates para que a comunidade acadêmica tenha entendimento sobre racismo e discriminação, e o entendimento de que Universidade nós queremos”.
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Ela ainda destaca a importância de que a comissão também seja composta por lideranças indígenas, para falarem a partir de suas próprias experiências.
“Se a gente não se conhece, se a gente não olha no olho e não discute questões, essa questão do racismo, da discriminação e do preconceito na UFOPA nunca vai ser resolvida. Então a gente precisa encontrar mecanismos universitários para que, de fato, a gente resolva problemas que são estruturais no Brasil”.
Em nota, a UFOPA firma seu compromisso em criar a comissão em questão.
“A pedido dos discentes, será também constituída uma comissão interétnica, com representantes dos coletivos estudantis, de entidades ligadas aos movimentos indígenas e quilombolas e da Gestão Superior da Ufopa para, junto com a Diretoria de Políticas Estudantis e Ações Afirmativas da Pró-Reitoria de Gestão Estudantil (Proges), debater políticas de formação para os servidores da Universidade”.
O Tapajós de Fato entrevistou ainda, Auricélia Arapiun, coordenadora geral do Conselho Indígena Tapajós Arapiun (CITA), que explicou qual o posicionamento do conselho diante desse caso de racismo que, segundo ela, não é o primeiro dentro da instituição.
“Nós estamos muito preocupados, pois esses casos de racismo na universidade são muito recorrentes. E isso causa um dano enorme não só para a pessoa que sofre o racismo, mas coletivamente também. E nós já fizemos a denúncia e pedimos para que haja punição, porque houve um crime. E para além disso, nós também vamos denunciar no Ministério Público”.
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Devido a frustração e o medo de Arliene com os ataques proferidos pelo professor, Auricélia explica que a sociedade e o Estado precisam encarar o racismo também como um caso de saúde pública, pois, segundo ela, muitos acabam adoecendo psicologicamente com situações como essa.
Auricélia explica ainda que espera da nova gestão universitária um compromisso maior com os alunos indígenas e mais espaços de diálogo.
“Nós estamos com uma nova gestão na universidade e esperamos que essa seja mais aberta ao diálogo. Que a gente possa construir juntos uma política de acolhimento dentro da instituição para os estudantes indígenas e ampliar o debate sobre o racismo dentro da universidade”.
Auricélia convida ainda a Universidade para conhecer os povos indígenas para além da realidade acadêmica, indo aos territórios e aldeias.
Link: https://www.tapajosdefato.com.br/noticia/943/indigenas-protestam-contra-falas-racistas-de-professor-e-cobram-medidas-efetivas-da-reitoria-da-ufopa