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Universidade Federal do Oeste do Pará

Ultima atualização em 18 de Dezembro de 2023 às 10:40

Ufopa e UERJ: Roda de conversa debate ações afirmativas e estimula troca de experiências


A Comissão Setorial de Ações Afirmativas do Instituto de Ciências da Educação (Iced) realizou, no último dia 13 de dezembro, roda de conversa com o tema "Diálogos interinstitucionais sobre ações afirmativas: as experiências da Ufopa e da UERJ". Na ocasião, a coordenadora da Comissão Permanente de Validação da Autodeclaração (CPVA-Reitoria) da Faculdade de Educação da Baixada Fluminense (FEBF) Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), professora Dra. Rosangela Malachias, apresentou uma síntese histórica das ações afirmativas elaboradas e implementadas na instituição fluminense, especialmente aquelas voltadas para o acesso e permanência das populações minoritárias.

De acordo com a Prof. Dra. Rosangela Malachias, mesmo a UERJ sendo a primeira instituição pública do Brasil a instituir cotas raciais para acesso ao ensino superior, antes mesmo da legislação federal, as questões para melhorar "a entrada de populações quilombolas e indígenas pelo vestibular seguem sendo um desafio". A visita da docente foi planejada com o intuito de construir parceria entre as duas universidades, para a pesquisa, extensão cultural e inovação tecnológica.

 

Profa. Dra. Rosangela Malachias (UERJ). Foto: Divulgação.

 

Participantes – Estiveram presentes na discussão os agentes que organizam o acesso e a permanência de estudantes indígenas, quilombolas e pessoas com deficiência (PcDs) na Ufopa. "É fundamental ouvir o público-alvo das políticas, pois são as pessoas que vivenciam o cotidiano universitário e identificam os desafios a serem superados pela instituição", salientou o presidente da Comissão Setorial de Ações Afirmativas, e idealizador do encontro, o Prof. Dr. Hector Calixto.

Também foram convidados os servidores e discentes Andrea Leão (CAPSE/Ufopa), Amanda Silva (Proges/Ufopa), Marília Leite (FAIN/Ufopa), Luiz França (Iced/Ufopa), Adrielly Sousa e Jaime Santos (CEQ/Ufopa), Alexandre Arapiun (Dain/Ufopa), Ingrid Ohandra Costa e Liliane Silva (CECD/Ufopa), que apresentaram a experiência da Ufopa, tanto nos procedimentos da organização dos Processos Seletivos Especiais Indígena e Quilombola quanto nas políticas de permanência.

"Os seminários realizados são muito importantes para compreendermos as demandas e alinharmos o processo junto aos discentes indígenas e quilombolas, bem como com as lideranças dessas populações, a fim de atender o que de fato é necessário para o acesso deles ao ensino superior", pontou Andrea Leão, presidente da Comissão de Avaliação dos Processos Seletivos Especiais, que lembrou ainda que a participação dos envolvidos na construção do trabalho é fundamental para a melhoria das políticas.

Histórico de formação acadêmica indígena e público de cotas

A Formação Acadêmica Indígena (FAIN) foi instituída como política desde 2017 na Ufopa e é resultado de proposição dos próprios discentes indígenas que já estavam na Universidade. A docente Marília Leite destacou: "A Ufopa é a única instituição que tem esse modelo de formação, com um ano específico para os discentes indígenas apreenderem o modo de fazer ciência presente na Universidade e articularem os saberes de seus povos ao presente, nesse espaço de que passam a fazer parte".

Amanda Freitas, diretora em exercício de Políticas Estudantis e Ações Afirmativas, da Pró-Reitora de Gestão Estudantil, e Giselle do Vale, coordenadora em exercício de Diversidade e Inclusão, salientaram o pioneirismo da Ufopa no acesso e permanência de populações minoritárias, destacando que mais de 80% dos discentes são público de cotas e que, em relação aos indígenas, a Ufopa é a segunda instituição com o maior número de discentes. "Isso é motivo de muito orgulho para nós, mas ao mesmo tempo, é um desafio imenso para pôr em prática as políticas. A diretoria tem o papel de elaborar, construir e acompanhar as políticas afirmativas na Ufopa, mas a execução e a efetivação delas dependem de um esforço institucional, especialmente dos docentes que atuam diretamente com os estudantes. As barreiras atitudinais são as principais a serem transpostas", disse Amanda.

Participação de discentes indígenas

Os discentes que representaram seus pares apontaram os principais pontos positivos das ações na Ufopa. Alexandre Arapiun, do Diretório Acadêmico Indígena, ressaltou que além desse diretório existem dois coletivos, o de estudantes Munduruku e Wai-Wai, que trabalham de forma específica com as suas demandas dentro da universidade. O diretório é o espaço de representação de todos os estudantes indígenas na universidade, com uma carga de luta histórica". A participação dos povos no seminário é um diferencial para o sucesso do processo seletivo especial. Também é importante falar do Ceanama, projeto de monitoria onde bolsistas indígenas e não indígenas acompanham os estudantes indígenas e quilombolas, além de estudantes PcD que precisam de orientação para sua trajetória acadêmica".

Falando em nome do Coletivo de Estudantes Quilombolas, Adrielly Sousa relembrou que, mesmo não fazendo ideia de que seria de movimento estudantil, o CEQ faz parte de sua vida na Universidade: "É como se fosse nosso pedacinho do quilombo aqui na Universidade. Nos unimos e temos forças para avançar na vida acadêmica". Jaime Santos também relembra a importância dos movimentos realizados para sua entrada na Ufopa: "Os cursos preparativos realizados para a prova são essenciais. Temos uma educação básica diferenciada, modular. Por isso, os cursos preparatórios realizados pelo Prof. Luiz Fernando são primordiais para que possamos fazer a prova com segurança".

Superar a postura capacitista de docentes

Ingrid Ohandra, estudante PcD, falou da importância do serviço prestado pelo Núcleo de Acessibilidade para sua permanência, mas não deixa de apontar a necessidade de mudança de postura dos docentes: "Acaba sendo muito recorrente a postura capacitista de vários docentes, e ainda aqueles que se recusam a fazer adaptações e pensar modos de organização do ensino que seja inclusivos". Liliane Silva destacou os direitos de estudantes PcDs, que ainda não são integralmente atendidos: "Não basta permitir que estejamos em sala de aula, mas sim atender à legislação, como no caso do Plano de Ensino Individualizado (PEI), que ainda existem docentes que se recusam a fazer ou a nos apresentar".

A diretora do Iced, Lademe Correia, esteve presente ao evento. Para ela, a postura inclusiva deve ser presente em todos os institutos. "Conhecer a realidade dos discentes, mais de perto, está intrinsecamente ligado à garantia do direito de permanência. Por isso, no planejamento de nosso instituto, já constam ações envolvendo docentes e técnicos para o início do ano que vem, com comunidade quilombola", destacou.

O evento possibilitou a troca de experiências, promovendo a percepção de que os desafios são comuns a todas as instituições, principalmente em relação à postura dos docentes, mas que, por meio de uma rede de colaboração, é possível melhorar as políticas e ações que promovam a inclusão e um ambiente agradável acadêmica e socialmente. "Emprestando as palavras do Alexandre, do DAIN, a rede já está tecida, já temos os nós, agora só falta lançar essa rede para que os resultados sejam maiores ainda", ressaltou Hector Calixto.

A presença da professora Rosangela Malachias foi possível graças ao apoio da Fundação Fulbright, Programa "Humphrey 45th Anniversary Professional Development Grant", que proporciona aprimoramento aos ex-bolsistas internacionais, dispostos a estudar e construir alternativas coletivas aos desafios inerentes à sociedade global.

Talita Baena – Comunicação/Ufopa, com informações do Iced
15/12/2023

Roda de conversa, 13/12/2023. Foto: Acervo do Iced.

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